quarta-feira, 4 de maio de 2011

E no cafofo do Osama...

            Osama Bin Laden morreu. E com ele uma era! Sim? Não? Ou será que assistimos agora não a morte, mas a ressurreição de uma causa, fortalecida ainda mais pelos últimos acontecimentos? Pois um líder morre, mas não o seu ideal. Meu discurso está parecendo de algum extremista islâmico anti-semita e fã do terrorismo? Estou longe disso.
            O ponto que gostaria de evidenciar não é qual lado está com a razão – o norte-americano, que por si decidiu representar o ocidente em sua luta cega contra o terrorismo, ou o de Bin Laden, da causa anti-ocidente, da guerra contra o estado judeu e a favor do (seu) Islã – afinal, cada qual age por seus próprios motivos, e não há como se tirar a razão de quem luta por aquilo que acredita, ninguém é dono da verdade. Até ai, tudo ótimo. Por outro lado podemos analisar a situação como uma reviravolta inesperada, e que em grande parte favorece a causa Islâmica (como pensada por Bin Laden), e de seu falecido líder, que agora, além de um exercito de favoráveis, tem a seu lado a eternidade: sua imagem jamais morrerá, e de quebra ainda será tida como a de um mártir por entre os seus. Será que Obama, que veio de uma campanha de muito papo, com muito crédito a seu favor, e que até agora não demonstrou ser a fada azul que se pensava, num cenário de wikileaks e afins, pode ganhar de um mártir imortal? Especulações a parte, o que se sabe é que ainda há muito a acontecer, a luta pelo território palestino é secular, e não será resolvida da noite para o dia. Que virá a seguir?
            Não sou o maior fã do tio Sam, aliás, como latino que sou penso não poder agir de outra forma. Eles nos tiraram até o direito de sermos americanos (me aprofundarei nesse assunto em uma outra oportunidade)! Contudo, é com imparcialidade que os vejo como terroristas de igual (ou de maior) periculosidade que a Al Qaeda. Seu terrorismo não existe na forma como o é entendido e aplicado ao terrorismo de Bin laden e de tantos outros. Seu terrorismo é, e esta presente na opressão que sua onipotência irradia por sobre o mundo. Cuba, que paga até hoje por não se submeter às vontades imperialistas, é o melhor exemplo disso. Novamente, não estou aqui para escolher lados (que não o meu, o daquilo que acredito) em uma luta que não é minha. O que não posso deixar de pensar, por ser o que sou e acreditar no que acredito, é que toda essa situação estaria melhor sem o dedo norte-americano enfiado nela.
            Bin Laden fora aliado dos EUA contra a URSS, tendo deste o apoio para enfrentar a força socialista. E com a famigerada agência de inteligência norte-americana, aprendeu as práticas que o fizeram ser quem se tornou. César novamente traído! E assim, o império enfia os pés pelas mãos, num ciclo que, espero, tenha fim na serpente engolindo o próprio rabo.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Morte!

Estamos tão distantes da morte que às vezes torna-se difícil enxergá-la como uma possibilidade, sequer. Como certeza esta nem nos passa pela mente. Engraçado, e quando digo que estamos distantes digo em sentimento, em consciência. Todos sabemos que vamos morrer, mas essa idéia nos é tão distante que não parece real. Até o momento em que a morte resolve dar as caras, aparecer ao nosso redor; e num instante percebemos o quão fino é o laço que nos mantêm em vida. De repente, tudo parece fazer mais sentido ou ter mais valor. Então, pouco depois, o dia amanhece, o medo se esvai, mais cedo para uns que para outros, e novamente nos esquecemos de que também chegará a nossa vez. 
A sensibilidade se vai, e com ela a capacidade de ver a maravilha contida no horizonte, mesmo que cinza, de um novo dia e de todas as possibilidades que este abriga: a chance de viver novamente já nos deveria bastar. Não, somos imortais novamente. 
Onde está o sentido? Afinal, viver acreditando, ou fingindo acreditar que não haverá um fim, no melhor dos casos minimiza nossa experiência do que é viver. E, nessa falta de tato para as coisas que realmente importam, para os momentos que se encaixam em bela, triste ou feliz perfeição, quantos sorrisos já se passaram sem que sequer tenhamos sentido sua luz? Quanto perdemos, por uma escolha inconsciente! 
Talvez esta decisão, que por ninguém é tomada, de não ver a real natureza da vida, encontre explicação na brutal natureza da morte. Ela vem, sem aviso, e nos tira tudo, tudo cessa. Ter consciência da morte é ser assombrado por um fantasma que nunca sai do seu lado. O “não saber” do nosso fim nos protege da amargura e nos dá motivo para seguir com a vida.

Sendo assim, talvez seja esta a função da morte para os vivos. Trazer a lembrança do quanto vale olhar nos olhos, ou no nada. E para que depois esqueçamos de que ela existe.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Morte e vida, brasileira!


Ligue a televisão. Qualquer pessoa minimamente preocupada com questões humanas não entenderá como podem ocorrer tantos casos de natureza tão horrenda em um espaço de tempo tão pequeno. Sem hipocrisia: sabemos que desde o inicio da historia humana a violência está presente, não é um reflexo de acontecimentos modernos. Mas nem de longe o fato de uma coisa se repetir incontáveis vezes torna-a menos vergonhosa.
O que realmente é preocupante é a naturalidade com que vemos tais acontecimentos e, novamente, não é uma questão atual, mas sim histórica. Isso é um sinal da perca gradativa que ocorre em nossa capacidade de indignação, de repudio frente ao horror. Em outras palavras, a nossa “humanidade” perde-se a cada fato que nos é jogado ao rosto, a cada vida que não podemos salvar. Com o tempo, o que nos resta é apenas a indiferença.
            A menos que ocorra com alguém de nossa família, ou com algum amigo próximo, mortes serão apenas números. Apesar de vermos nos jornais todos os detalhes sobre um ou outro caso, sabemos que os números reais são bem superiores aos que os meios de comunicação são capazes de expor, contudo, números não são capazes de transmitir emoção. A dor que sentimos ao perdermos um ente querido é infinitamente superior à que sentimos ao lermos as estatísticas das mortes de causas violentas no Brasil, por exemplo. É claro, não é uma comparação correta a ser feita, visto que não temos laços com estas pessoas. Entretanto, a comparação não se dá em “sentir mais ou menos”, a comparação se dá em sentir algo, e não sentir nada. Indignação. É isto que nos falta.
            O nosso grande erro é ver com naturalidade uma coisa que não é natural. Não há sequer uma causa para nos conformarmos perante milhares de mortes desnecessárias, principalmente quando sabemos que o grande responsável por estas mortes somos todos nós, a sociedade. “Não tenho culpa de um marido ser alcoólatra e ter matado a mulher e os filhos” – Este é um grande engano. Uma pessoa tornar-se ou não alcoólatra é um fato que não depende unicamente dela, mesmo sendo a grande estrela do espetáculo. O que devemos tomar por verdade é que uma realidade atual é sempre o resultado de uma seqüência de realidades anteriores. Diga-me, por que um garoto que vive diariamente com o crime organizado torna-se um traficante? Por que ele quis, afinal muitos outros nascem em condições semelhantes e nem por isso tornam-se todos criminosos? Quem faz este tipo de afirmação não compreende que, em se tratar de seres humanos, trata-se de seres humanos! Mutáveis, individuais, complexos, seres que vivem cada experiência à sua forma. Não há vidas iguais, nem acontecimentos humanos iguais. Cada homem é único, e, dessa forma, também o é cada fato ocorrido consigo. Logo, as conseqüências de um mesmo fato variam de pessoa a pessoa: cada caso tem de ser estudado em sua individualidade.
            Enfim, temos culpa e não temos consciência! Ah, o que me lembra que se analisarmos os dados, a taxa de violência tem caído bastante nas ultimas décadas, principalmente nas capitais, como resultado de melhores investimentos em infra-estrutura social, geração de empregos, entre outros. Mas isso é um verdadeiro avanço? Um morador da capital paulista tem só 50 vezes mais chance de ser assassinado que um morador de NY. Se levarmos em conta que esse número já chegou a faixa de 600 vezes, é um grande avanço, mas, pensando bem, que merda de avanço! 50 vezes mais chance de morrer assassinado? Isso não deveria nem ser divulgado, tamanha a vergonha a que nos expõe! E ainda comemora-se isso?
E saber que tudo está como está porque nossa população não foi suficientemente bem planejada, assim como nossas cidades e suas estruturas, fracas, vitimas do estupro colonial desde o inicio da nossa historia, me deixa triste por viver no solo mais rico do mundo, em todos os sentidos, e só ter como lembrança desta riqueza a nossa inferioridade eterna, nossa servidão eterna, nosso sofrimento eterno. E nossa fraqueza, que faz quem tem poder vender a alma em troca de riqueza pessoal, e não nos permite lutar para uma melhor condição social. E, nem para morrer menos...

domingo, 2 de janeiro de 2011

Vai, idade

Inquietude. A mente fervilha. Êxtase misturado ao sono: ainda é madrugada do segundo dia do primeiro ano da década, ano que abriga meu vigésimo aniversário. Duas décadas que me roubam o sono e o sossego! E a ânsia por realizações, crescimento e sucesso faz-se tão explicita que sobrepõe tudo, até mesmo o juízo.
Não sei se estou na crise dos vinte (aliás, nem sei se isso existe), mas devo confessar que, pela primeira vez, a idade se faz um fator ao qual eu sinto ser obrigado a dar alguma atenção.
Claro, sem exageros, afinal é de senso comum que vinte anos é apenas o começo de uma vida cheia de felicidades e sofrimentos. Não obstante, se levarmos em conta a expectativa de vida de um brasileiro hoje, que é de 73 anos, já estou beirando os 30% das alegrias e tristezas.
Engraçado observar que, na maioria dois casos, deixamos para nos dar conta de que o tempo passa quanto este já não se dispõe a trabalhar mais em nosso favor. Fato que deixa de ser trágico no momento em que evidencia a fragilidade de nossa percepção do eu perante o mundo.
O sofrimento é um resultado possível de diversas escolhas, assim como o é a felicidade. Contudo, deixamos para nos dar conta de que vamos morrer e que não somos felizes com a vida que vivemos quando já não resta mais nada a se viver. Triste ou cômico? Afinal, se escolhêssemos viver sabendo de nosso fim, talvez pudéssemos transformar a amargura em paz de espírito. Erramos, por escolha própria a vida inteira ao pensar que somos imortais, ou melhor, ao ver a morte como aquele parente distante, que você prefere ignorar, mesmo sabendo que um dia ele pode vir te visitar, e cobrar de você todas as realizações que você ambicionou, e que nunca teve força para concretizar.
Por tudo isso, sinto-me mais confortável em me frustrar já com o que não realizei, e em me cobrar excessivamente por mudanças, antes que os dias passem, e a frustração torne-se, irremediavelmente, companheira e arquiteta de meus dias, juntando-se a amargura e a tristeza em meu leito de morte.
Prevenir é SEMPRE melhor...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Pensamentos de uma tarde ociosa

Grandes coisas só podem ser feitas quando há tempo suficiente para serem planejadas.
Diga-se o mesmo das coisas opostas: inúteis e sem real valor para quem quer que possa apreciá-las. Contudo, a sensação de inutilidade é um tanto relativa para ser avaliada de forma banal. Digo isto pois se imaginarmos aquele que cria, veremos partir de si sempre as críticas mais negativas, a menor valorização de seu trabalho (claro, em se tratar de certo tipo de pessoa, veremos justamente o contrário); e, da mesma forma que a critica, valoriza-a inexplicavelmente, talvez sabendo inconscientemente, que a obra que se cria, mesmo vã e desproveitosa, tem mais valor para si que aquela jamais realizada. E, por que não por pensar que, se está criada, possa vir a agradar quem que com ela tope em determinada altura?
Na verdade, não creio que grandes coisas necessitem de tempo para serem planejadas. Grandes coisas simplesmente ocorrem, nas bem-aventuranças de mentes brilhantes (Aposto que se uma maçã tivesse caído em minha cabeça, o máximo que poderia deduzir é que jamais deverei tirar um cochilo embaixo de um pé de jacas).
Felizmente, para mim e para quem tem a necessidade de criar para sentir-se vivo, não é proibido criar, mesmo que não sejam criações de grande qualidade; e, paradoxalmente, detesta-se e ama-se o que se cria, assim como detestamo-nos e amamo-nos ao mesmo tempo, pois toda criação é uma parte nossa, idealizada, materializada. Um pouco daquilo que flutua em nossas mentes e que carrega tanto significado quanto negamos ser possível carregar.
O que vale, de fato, é criar! Não precisa-se de talento nem tão pouco de inspiração. A arte de criar não necessita criatividade. É o exercício de exercitar a alma humana. Cantar a beleza envolvente dos mistérios de nossas mentes. Angústias, aflições, desejos, amores: sentimentos que nos compõem, que nos impulsionam, que nos dão vida a vida!


Sobre o que eu pretendia escrever mesmo?

Abraços!

Começando o ano

Quando nada ao seu redor parece fazer sentido, ou ser realmente necessário, e tudo está vazio por mais que nada falte. Quando a melancolia bate a porta e meu eu se desencontra de mim, e ser, apenas ser, é dor insuportável, pois o ser encontra-se perdido na falta do eu. Ser sem saber o que, sem conhecer nem a si, nem a seus desejos. Que direção tomar quando não parece haver direção, quando nenhuma direção parece ser uma saída?
            Perder-se em si e não encontrar o caminho de volta à lucidez, e nem a vontade de procurar tal caminho. Afinal, vale a pena tal sacrifício? Ou a falta de lucidez é a única forma de estar lúcido?
            Se o desencontrar-se for a única forma de saber o quão distantes estamos de, realmente, encontrarmo-nos, perder-se torna-se o único caminho.
            Se o vazio for o reflexo real de nossa insignificância perante o mundo, perante o próximo, perante coisas que não podemos conhecer, então o vazio é o estado onde mais completos estamos.
            E quando nada faz sentido, talvez possamos encontrar o verdadeiro sentido no novo, no que a vida nos revela ter mais importância a cada dia.
            Nossa capacidade de julgar nos permite tomar tantas conclusões quantas forem exigidas. Menos sobre nós mesmos. Se conhecermo-nos é tarefa tão árdua, em grande parte por nossa inconstância, como saberemos reconhecer aquilo que nos anima a viver sem que antes nos animemos em viver?

Feliz 2011.